O Descanso do Modelo, Almeida Júnior, 1882

O regionalismo de Almeida Júnior nas representações sobre o Brasil

Considerado por muitos o mais brasileiro dos nossos pintores do século XIX, Almeida Júnior tinha grande interesse pelos costumes, cores e temáticas regionais, o que o levou a explorar aspectos até então inéditos na arte desenvolvida no Brasil.

O artista representou em suas telas personagens e costumes do interior do país, realçando os modos de vida dos brasileiros sem recorrer à caricatura e se afastando das concepções europeias.

Assim, uma das principais características de suas obras era a capacidade de retratar de forma realista o cotidiano do caipira, o ambiente em que vivia (a pobreza, inclusive) e a sua vida. Tudo isso sem o ufanismo e o nacionalismo empregados pelos pintores da Academia.

Do interior caipira para os salões de Paris

Almeida Júnior nasceu no dia 8 de maio de 1850, na cidade de Itu, no interior de São Paulo. Desde a infância, já demonstrava interesse pelo desenho e pela pintura. Por isso, em 1869, aos 19 anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro e ingressou na Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) para dar continuidade aos seus estudos.

Ao longo do curso, recebeu várias premiações. A primeira foi conquistada em 1874, durante a Exposição Geral de Belas Artes da AIBA, pela obra “A ressurreição”. Os pintores Pedro Américo, Jules Le Chevrel e Victor Meireles foram alguns dos professores que contribuíram para a formação do artista.

A Ressurreição, Almeida Júnior, 1874
A Ressurreição, Almeida Júnior, 1874

Viveu em Paris entre os anos de 1876 e 1882, com uma bolsa de estudos concedida pelo Imperador D. Pedro II. Lá, participou de quatro edições do Salão de Paris e produziu verdadeiras obras-primas, como “Perfil de Mulher” (1882), “Remorso de Judas” (1880), “A Fuga para o Egito” (1881), “O Descanso do Modelo” (1882) e “O Derrubador Brasileiro” (1879) – na qual percebemos os primeiros indícios de seu interesse pela temática caipira.

Perfil de Mulher, Almeida Júnior, 1882
Perfil de Mulher, Almeida Júnior, 1882
Remorso de Judas, Almeida Júnior, 1880
A Fuga para o Egito, Almeida Júnior, 1881
A Fuga para o Egito, Almeida Júnior, 1881
O Descanso do Modelo, Almeida Júnior, 1882
O Descanso do Modelo, Almeida Júnior, 1882
O Derrubador Brasileiro, Almeida Júnior, 1879
O Derrubador Brasileiro, Almeida Júnior, 1879

“Arredores do Louvre” (1880) também é um dos trabalhos emblemáticos do período francês do artista, no qual foi influenciado pelo realismo de Gustave Courbet e de Jean-François Millet. 

Arredores do Louvre, Almeida Júnior, 1880
Arredores do Louvre, Almeida Júnior, 1880

De volta ao Brasil em 1882, Almeida Júnior realizou sua primeira mostra individual para exibir sua produção parisiense. Em São Paulo, abriu seu ateliê e passou a contribuir para a formação de novos pintores, como Pedro Alexandrino. 

A arte de revelar o Brasil e suas cores

Apesar de usar uma paleta de tons mais claros, a luz brasileira e uma gestualidade mais livre, não podemos dizer que Almeida Junior tenha abandonado o rigor acadêmico (o desenho e a anatomia). 

Foi na última década de sua vida que ele produziu as telas mais importantes de sua carreira. Nessa fase, foi substituindo os temas bíblicos e históricos pelas temática regionalista.

Obras como “O caipira picando o fumo” (1893), que conheci nos livros de História, fazem parte do imaginário de muitos. Apesar da pobreza, que verificamos pela sua casa, nada parece abalar a serenidade daquele homem picando o seu fumo.

O Caipira Picando o Fumo, Almeida Júnior, 1893
O Caipira Picando o Fumo, Almeida Júnior, 1893

Outras pinturas dessa fase são: “Caipiras Negaceando” (1888), “Amolação Interrompida” (1894), “Apertando o Lombilho” (1895) e “O Violeiro” (1899)

Caipiras Negaceando, Almeida Júnior, 1888
Caipiras Negaceando, Almeida Júnior, 1888
Amolação Interrompida, Almeida Júnior, 1894
Amolação Interrompida, Almeida Júnior, 1894
Apertando o Lombilho, Almeida Júnior, 1895
Apertando o Lombilho, Almeida Júnior, 1895
O Violeiro, Almeida Júnior, 1899
O Violeiro, Almeida Júnior, 1899

Infelizmente uma tragédia encerrou a vida de Almeida Júnior: ele foi apunhalado por seu primo José de Almeida Sampaio, que era marido de Maria Laura, com quem o artista manteve um relacionamento secreto. Em função do ferimento, o pintor faleceu no dia 13 de novembro de 1899, em Piracicaba, no estado de São Paulo.

Em homenagem a esse grande artista, na data de seu nascimento (8 de maio) é comemorado o Dia do artista plástico brasileiro. Hoje seus trabalhos mais representativos podem ser vistos pelo grande público na Sala Almeida Júnior da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

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André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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