Carnaval: dos cortejos às escolas de samba

Uma imagem do carnaval é a de centenas de pessoas fantasiadas, esbanjando alegria, ao som de muita música e dança. Um verdadeiro espetáculo que toma as ruas e arrasta quem estiver por perto. No Brasil, os dias de folia sempre foram assim, seja nos tempos dos antigos cortejos ou na atualidade das escolas de samba.

Cortejo de carnaval, 1907
Cortejo de carnaval, 1907

Para ocupar as ruas, os eventos de carnaval sempre tiveram que se reinventar por causa da resistência de setores da sociedade às festas populares. Foi assim que, no final do século XIX, surgiram os cordões e ranchos, que foram uma opção ao entrudo após ele passar a ser alvo de repressão policial.

Cordões e ranchos garantem a folia do povo

Os cordões lembravam a estética das procissões religiosas. Eram formados por grupos de foliões mascarados de velhos, palhaços, diabos, reis, rainhas, índios, baianas, entre outros. Todos seguiam o comando de um mestre, que usava um apito para dar as instruções, e eram acompanhados por um conjunto de percussionistas.

Já os ranchos, típicos do Rio de Janeiro, contavam com a presença de rei e rainha e de uma dupla de porta-estandarte e mestre-sala responsáveis pela guarda do estandarte. O desfile era aninado por instrumentos de sopro e corda que executavam a marcha-rancho, ritmo mais pausado que o samba.

Acredita-se que os ranchos tiveram sua origem em manifestações culturais africanas. Em 1911, foi organizada pelo Jornal do Brasil a primeira competição oficial de desfiles dessa modalidade do nosso carnaval.

Corso: desfile de conversíveis faz o carnaval das elites

Porém, além de fazer a alegria das classes populares, o carnaval de rua também teve espaços reservados às elites. Após o período marcado pelas Grandes Sociedades Carnavalescas, que saíam em cortejo pelas ruas exibindo fantasias luxuosas, vieram os corsos. Tratava-se de um desfile de automóveis conversíveis enfeitados que, com suas capotas de lona abaixadas, desfilavam repletos de foliões fantasiados.

Desfile das Grandes Sociedades Carnavalescas no Rio de Janeiro, c.1919
Desfile das Grandes Sociedades Carnavalescas no Rio de Janeiro, c.1919
Desfile do corso no carnaval de 1919, no Rio de Janeiro
Desfile do corso no carnaval de 1919, no Rio de Janeiro

O percurso ia da Av. Central (atual Av. Rio Branco) até a Av. Beira Mar, no Rio de Janeiro. A farra se completava quando os carros se cruzavam e os foliões fantasiados jogavam confetes, serpentinas, esguichos de água e lança-perfume uns nos outros. Antes da chegada dos conversíveis no Brasil, os desfiles do corso eram feitos com carruagens enfeitadas puxadas por cavalos.

O espetáculo das escolas de samba

Como podemos ver, muitos dos elementos, presentes nas diversas formas de festejar o carnaval, foram incorporados pelas escolas de samba. Carros enfeitados, casal de mestre-sala e porta-bandeira, o estandarte, a opção por realizar um desfile (que tem relação com as procissões religiosas), os concursos e, é claro, a música.

A bateria, por exemplo, é derivada de uma das primeiras manifestações que utilizava música na festa na rua: o Zé Pereira. Era um grupo de homens que saía pelas ruas tocando bumbo e fazendo muita algazarra. De lá pra cá, a quantidade e a diversidade de instrumentos se multiplicou, como podemos ver nos desfiles das escolas de samba.

E foi ele, o samba, que desde o início do século XX se tornou um dos grandes símbolos do carnaval. O primeiro grande samba produzido, considerado o marco fundador desse ritmo no Brasil, foi “Pelo telefone” (1917), canção composta por Donga e Mauro de Almeida.

A primeira escola de samba foi criada em 1928, no Rio de Janeiro. Inicialmente ela foi chamada de “Deixa Falar”, mas anos depois mudou seu nome para Estácio de Sá. Seus membros fundadores levaram a experiência dos ranchos carnavalescos para o desenvolvimento da escola.

Além do Rio de Janeiro, outros estados, como São Paulo, também têm os desfiles de escola de samba como um dos pontos altos de seus carnavais. Que nos próximos anos a tradição continue e o carnaval chegue para todos se divertirem e recarregarem as energias!

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André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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