Aula de Dança, Edgar Degas, 1873-76

Edgar Degas: um artista “independente”

Conhecido por suas belas pinturas que retratam o universo do balé, Edgar Degas é um dos expoentes do Impressionismo. Ao contrário de outros artistas do movimento, ele não gostava de paisagens, nem de pintar ao ar livre.

Apesar de ser visto como um artista impressionista, suas obras possuem fortes elementos do Realismo e do Renascimento italiano. Buscava dar à pintura um aspecto de espontaneidade, realçando o traço, o movimento e os tons pastéis.

Degas tinha grande interesse por balé e não apenas assistia aos espetáculos, mas também frequentava assiduamente os seus ensaios. Em “Aula de dança” (1873-76), uma de suas pinturas mais famosas, ele retrata um momento da rotina cansativa das jovens bailarinas.

Aula de Dança, Edgar Degas, 1873-76
Aula de Dança, Edgar Degas, 1873-76

Um detalhe interessante dessa tela é que as linhas das tábuas do piso levam o nosso olhar para o fundo da imagem, nos situando como observadores privilegiados desse ensaio de dança.

Além de bailarinas, Degas também gostava de pintar corridas de cavalo e banhistas.

O universo da fotografia era uma das paixões de Degas. Ele fazia experimentações com a câmera fotográfica, o que o levou a introduzir novidades na sua forma de pintar. Uma delas é a composição descentralizada e cortes abruptos, como se fossem fotos mal enquadradas.

Um artista de berço

Edgar Degas nasceu no dia 19 de julho de 1834, em Paris. Filho de um rico banqueiro francês, foi incentivado desde cedo a se dedicar a atividades artísticas. No entanto, resolveu estudar Direito, curso que abandonou alguns anos depois de ingressar na Universidade de Paris para viver exclusivamente da arte.

Ainda jovem, era levado pelo pai para conhecer obras expostas nos salões do Louvre e em coleções particulares. Com todo esse estímulo, começou a se dedicar às artes plásticas, ao ponto de transformar em estúdio um quarto da casa onde residia.

Mais tarde foi estudar na École des Beaux-Arts, em Paris, e passou a frequentar o ateliê do pintor francês Felix Joseph Barrias. Além disso, viajou bastante, sempre em busca de ampliar seus conhecimentos e conhecer o trabalho de mais artistas.

Na Itália, por exemplo, estudou o Renascimento e teve contato com obras de Michelangelo, Leonardo da Vinci e Rafael Sanzio, dentre outros. Em solo italiano, concebeu “Retrato da família Bellelli” (1860), com esboços de todos os membros da família aristocrata italiana,  nos quais buscou realçar aspectos psicológicos dos personagens. O quadro foi finalizado em seu estúdio, em Paris.

Retrato da Família Bellelli, Edgar Degas, 1860
Retrato da Família Bellelli, Edgar Degas, 1860

O estúdio era um lugar sagrado para Degas, poucos tinham permissão para nele entrar. No entanto, em 1912, por causa da grave crise financeira que passou a enfrentar após a morte de seu pai, o seu estúdio foi expropriado.

Em 1870, quando a França entrou em guerra com a Prússia, ele se alistou na Guarda Nacional. Nessa época, sua vista, que já não era perfeita, começou a piorar, chegando a ficar quase cego no final da vida.

Além do Impressionismo

A amizade com o pintor Édouard Manet foi decisiva para sua conversão ao Impressionismo, chegando a participar de sete das oito exposições do grupo – apesar de se autodenominar um artista realista ou independente. Porém, foram muitos os conflitos que teve com os artistas do grupo, pois via pouca coisa em comum entre seu estilo e o de outros impressionistas, como Claude Monet.

Na arte de Degas, tanto a escolha das cores como dos temas era pouco convencional para a época. Influenciado pela estética naturalista, retratou os costumes e os vícios da vida parisiense, como podemos ver na tela “O Absinto” (1876-1877).

O Absinto, Edgar Degas, 1876-1877
O Absinto, Edgar Degas, 1876-1877

A tela traz a espontaneidade de um instantâneo fotográfico. Representando uma típica cena de bar de um ambiente do submundo parisiense, o quadro é considerado por muitos como o mais depressivo do artista. Na maior parte da tela vemos mesas vazias e, na que está o casal, vemos copos com bebidas e o absinto, de cor verde.

Em 1860, a arte oriental passou a exercer forte influência na concepção artística de Degas, após a visita do artista à exposição de gravuras japonesas realizada em Paris. Daí em diante, incorporou o delicado traço das composições em seus trabalhos, passando a representar os objetos não apenas por suas características em si, mas pelas qualidades pictóricas que poderiam agregar ao conjunto da pintura.

Pintura ou fotografia?

Retomando suas temáticas prediletas, é importante ressaltar o interesse do artista pelas corridas de cavalo. Em “Uma carruagem nas corridas” (1869), vemos seu amigo Paul Valpinçon (de cartola) com sua esposa e filho, protegidos por um guarda-sol.

Uma Carruagem nas Corridas, Edgar Degas, 1869
Uma Carruagem nas Corridas, Edgar Degas, 1869

No entanto, o mais interessante nessa cena é como o elemento principal, a carruagem (no primeiro plano), não está representada integralmente. Além disso, os dois cavalos também têm as patas cortadas.

Características semelhantes podem ser vistas na tela “Jóqueis antes da corrida” (1881).

Jóqueis Antes da Corrida, Edgar Degas, 1881
Jóqueis Antes da Corrida, Edgar Degas, 1881

O pintor representou o momento de tensão que precede uma largada. Os cortes abruptos da imagem passam a ideia de um instantâneo fotográfico, ainda que seja uma pintura.

Na obra “Mulher sentada com vaso de flores” (1865), essa forma de enquadrar as imagens também é perceptível. A personagem tem o corpo cortado ao meio e as flores que estão na parte superior da tela também estão cortadas.

Mulher Sentada com Vaso de Flores, Edgar Degas, 1865
Mulher Sentada com Vaso de Flores, Edgar Degas, 1865

Arte Polêmica

Degas também realizou experimentações nas numerosas versões de pinturas com a temática sobre o banho, como na série “Depois do Banho” que mostrava mulheres fazendo a toilette. Nesses trabalhos, o pintor fez uso de vários processos técnicos, como a aquarela, o pastel, a água-forte, a litografia e o monotipo.

Em pinturas como “Mulher penteando” (1885), sobre a mesma temática, ele observava as mulheres atentamente e as representava dentro de bacias, saindo de banheiras, se ensaboando, se enxugando ou se penteando, como na obra que vemos agora. A sensualidade e a crueza das suas banhistas causavam grande desconforto no público.

Mulher Penteando, Edgar Degas, 1885
Mulher Penteando, Edgar Degas, 1885

Porém, mais que desconforto, a escultura “A pequena bailarina de 14 anos” (1881) deixou seus colegas e a sociedade da época chocados. Isso porque a bailarina representada por Degas era uma dançarina da Ópera, filha de uma família miserável e irmã de uma prostituta. Na face da bailarina, Degas esculpiu as marcas da miséria na qual viviam milhares de parisienses.

A Pequena Bailarina de 14 Anos, Edgar Degas, 1881
A Pequena Bailarina de 14 Anos, Edgar Degas, 1881

Os últimos dias do pintor foram praticamente na solidão. O artista faleceu em 1917, aos 83 anos, em Paris. Seu legado é de extremo valor para a história da arte. Muitos de seus quadros geraram controvérsias quando foram lançados e, ainda hoje, alguns deles são objeto de numerosos debates.

Degas soube como poucos eternizar cenas do cotidiano doméstico, frenéticas ruas de Paris e o balé, em obras que ganharam extrema reputação.

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André Dorigo
André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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