Inicialmente pensado para ser um manual para jovens estudantes, o livro “A História da Arte”, publicado em 1950, há várias décadas é uma referência obrigatória para todas as pessoas interessadas em aprofundar seus conhecimentos sobre arte. Para escrevê-lo, Ernest Gombrich usou uma linguagem simples e acessível para falar da produção artística, desde as pinturas rupestres até a arte contemporânea.
Graças ao êxito dessa obra, o autor foi indicado para ser professor em Oxford (1950 a 1953) e Cambridge (1961 a 1963), e convidado para realizar inúmeras palestras em países como os Estados Unidos.
Em uma entrevista (jornal El País, 1991), Gombrich disse que “em certo sentido, pode-se dizer que a arte é como um ser vivo e que tem, portanto, sua própria ecologia: o espaço social em que se move. Quando o espaço muda, a arte também se transforma”.
Da Áustria para a Grã-Bretanha
Ernst Hans Josef Gombrich nasceu em Viena (Áustria), em 1909, numa família judia, e cresceu num sofisticado meio social e musical. Seu pai era advogado e sua uma mãe pianista que tinha proximidade com vários músicos renomados do país.
A vivência com o mundo da arte foi intensificada ao longo de sua educação formal, em instituições que tinham forte tradição em estudos sobre história da arte, literatura, música e psicologia.
O ano de 1936 foi marcado por vários acontecimentos importante na vida de Gombrich. Foi quando lançou seu primeiro livro, “Uma Pequena História do Mundo”, e se casou com a pianista Ilse Heller. No entanto, foi também o momento que teve que se mudar para a Grã-Bretanha, em função do avanço do nazismo, onde passou a trabalhar no Warburg Institute.
Durante a Segunda Guerra Mundial, ele trabalhou na rádio BBC de Londres monitorando emissões de rádios alemãs. Em 1945, ao ouvir que as emissoras alemãs transmitiam uma sinfonia de Bruckner, composta em homenagem à morte de Richard Wagner, músico preferido de Hitler, intuiu que o líder nazista havia morrido.
Retornou ao Instituto Warburg em novembro de 1945, após o fim da guerra. Viveu na Inglaterra até a sua morte, em 2001, onde consolidou a sua carreira de historiador da arte, tendo, por sua contribuição à cultura, sido sagrado Cavaleiro e Membro da Ordem do Mérito, entre outras honrarias.
A arte como história humana
Gombrich teve diversas de suas obras publicadas em vários países. “A História da Arte”, por exemplo, foi traduzida para mais de vinte idiomas. No Brasil, além de seu clássico, foram editados livros como “Norma e Forma – Estudos sobre a Arte da Renascença” e “Meditações sobre um Cavalinho de Pau e Outros Ensaios”.
Nos textos que escreveu ao longo da vida, também tratou da fotografia moderna, em especial sobre o francês Cartier-Bresson.
Como historiador da arte, usava a psicologia das artes visuais para fazer seus leitores perceberem que cada obra reflete o passado e aponta para o futuro.
Para ele, a arte nos ensina a prestar atenção às combinações visuais do mundo. Evitando a estética e a crítica de arte, se concentrava na iconografia e nas inovações na técnica, no gosto e na forma.
Uma das inquietações de Gombrich era em relação à forma como as pessoas apreciavam uma obra de arte. De acordo com ele, muitas delas que possuíam algum conhecimento em história da arte, ao observarem uma obra não param para olhá-la de fato, como uma novidade, mas para buscar rótulos para classificá-la ou analisá-la.
Sua defesa é de que devemos nos aventurar numa viagem de descoberta quando estamos diante de uma obra de arte. Tarefa muito mais difícil, mas mais compensadora.