Gustav Klimt foi autor de algumas obras icônicas da História da Arte. Seu estilo inconfundível incluía mosaicos decorativos, muito dourado e mulheres sensuais, muitas vezes com seus corpos desnudos.
Ele foi um expoente do Simbolismo austríaco e do movimento Art Nouveau. O artista sem dúvida retratou o universo feminino como poucos e desenvolveu um olhar sobre o erotismo bastante ousado para a época.
Klimt se opunha ao Classicismo e ao Academicismo. Seu espírito rebelde, libertário e sensual se expressava nas pinturas, murais, desenhos e esboços que produziu.
Quem foi Gustav Klimt e qual foi o seu papel na Secessão de Viena
Klimt foi um artista que estudou com paixão o seu ofício e se rebelou corajosamente contra o status quo. Tímido, mas encantador, acima de tudo amava as mulheres. Embora nunca tenha se casado, foi pai de 14 filhos e, segundo rumores, teve várias amantes.
Gustav Klimt nasceu no dia 14 de julho de 1862, em Baumgarten, próximo a Viena. De origem humilde, conseguiu uma bolsa para a Escola de Artes e Ofícios de Viena.
Após concluir seus estudos, passou a receber encomendas para decorar tetos de palácios e teatros, o que realizava em parceria com um de seus irmãos e um amigo. Paralelamente, começou a produzir retratos que caíram no gosto da alta burguesia.
A partir de 1886, o estilo de Klimt passou a se diferenciar cada vez mais do academicismo. O seu caráter decorativo o fez receber inúmeras encomendas para decorar prédios e instituições, como as escadarias do Teatro Municipal de Viena e do Museu Histórico da Arte.
No entanto, quanto mais o pintor foi exacerbando determinadas características nas suas obras, como o erotismo e a forma mais naturalista de representar os corpos, mais foram se somando polêmicas em torno dos trabalhos produzidos.
Klimt liderou a Secessão de Viena (1897-1920) movimento artístico alinhado esteticamente com o Art Nouveau, que incluía pintura, escultura, arquitetura e decoração. O grupo protestava contra as normas tradicionais da época, buscando uma abordagem artística integrada e internacionalista.
O que foi a fase dourada de Klimt?
Durante o período que se estendeu ao longo da primeira década do século XX e ficou conhecido como “Fase Dourada”, Klimt explorou a incorporação do dourado às suas pinturas.
Os fundos dourados ajudavam a conferir bidimensionalidade (em que não há intenção de profundidade) e uma ambientação sobrenatural às obras.
O fascínio de Klimt pelo dourado pode ter sido herdado do pai, que era ourives e o teria ensinado a usar as folhas de ouro. Outra fonte de inspiração foram os mosaicos bizantinos, que ele estudou durante uma viagem à Itália, em 1903.
O Beijo, sua obra mais conhecida, foi pintada durante essa fase.
A obra mais famosa de Gustav Klimt
Você já deve ter visto “O Beijo” estampando camisetas, utensílios e os mais diversos objetos. Esta tornou-se, ao longo das últimas décadas, uma das mais icônicas obras de arte da história.
Acredita-se que seja o retrato do próprio pintor e de sua musa e companheira Emilie Flöge. Ela tinha um atelier de costura em Viena, conhecido pela inventividade de suas peças, inclusive as longas túnicas com padrões intrincados que foram eternizadas no próprio quadro d’O Beijo (e em outras obras de Klimt).
É possível também que o pintor tenha contribuído com as criações de Emilie, o que mostra uma mútua e riquíssima influência entre o casal.
Existem significados simbólicos na obra que podem ser facilmente ignorados: as plantas douradas que rodeiam os pés da mulher são chamadas de “erva de Parnaso” e representam há muito tempo a fertilidade.
Nos mantos que envolvem os corpos dos amantes, podemos perceber como Klimt representa o masculino, mais opulento, composto de formas viris e mesmo fálicas; e o feminino, com delicados padrões circulares.
Em 2013, o artista sírio Tammam Azzam replicou a obra em uma parede de um edifício bombardeado em Damasco, na Síria, como forma de protesto contra a guerra.
Eu fiz um vídeo em que falo 5 curiosidades sobre a obra “O Beijo”. Você pode assistir clicando aqui.
A Dama Dourada
A história do quadro “Retrato de Adele Bloch-Bauer I” (1907), que, assim como O Beijo, fez parte da Fase Dourada, foi contada no livro “A dama dourada, retrato de Adele Bloch Bauer” (2015), da escritora Anne-Marie O’Connor, e também no filme “A Dama Dourada”.
Exposto havia anos no importante museu Belvedere, de Viena, sob o nome de “Dama Dourada”, o quadro era considerado a Mona Lisa austríaca.
Poucos sabiam, ou se davam conta, porém, da procedência da obra. Ela havia sido espoliada dos Bloch-Bauer, assim como os nazistas fizeram com outras milhares de obras de arte pertencentes a famílias judias, ao longo da Segunda Guerra Mundial.
No final dos anos 1990, na Califórnia, Maria Altmann, uma octogenária, fugitiva do nazismo, única herdeira da família Bloch-Bauer, decidiu enfrentar o governo austríaco e pedir a restituição do retrato de sua tia Adele, entre outras pinturas que lhe pertenciam por direito.
Após longa batalha judicial, seu desejo foi cumprido e atualmente a obra se encontra em constante exibição numa galeria em Nova York.
Arte, erotismo e polêmica
A virada definitiva para o estilo que consagrou Klimt ocorreu em 1894, quando recebeu a encomenda para pintar três grandes painéis para o teto do auditório da Universidade de Viena.
As pinturas deveriam representar as figuras da Filosofia, da Medicina e da Jurisprudência.
Porém, o projeto de Klimt causou grande controvérsia, pois se afastava do modo de pintar que até então havia desenvolvido: era carregado de alegorias, como corpos femininos nus em poses vistas como obscenas.
Klimt demorou a produzir os painéis por causa das polêmicas que dificultavam a execução dos trabalhos. O último deles só foi finalizado e entregue em 1907. Infelizmente, as três pinturas foram destruídas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial por serem consideradas degeneradas.
Klimt pintava mulheres reais, que expunham as suas belezas, mas também as suas imperfeições. Muitas dessas mulheres eram apresentadas com olhos semicerrados e bocas entreabertas, em pinturas gigantescas, que escandalizavam os vienenses da época.
A tela “Dánae” (1907-08), por exemplo, traz a figura de uma mulher adormecida, cercada pelo que parecem ser moedas de ouro e espermatozoides.
As últimas obras de Klimt ganharam um tom ainda mais erótico, com desenhos de mulheres em poses e atitudes muito íntimas.
Klimt faleceu no dia 6 de fevereiro de 1918 e deixou uma série de obras inacabadas, entre elas “Adão e Eva” e “A noiva”, ambas de 1917.