Heitor dos Prazeres e o carnaval

Arte e carnaval é uma combinação capaz de encantar os olhos e despertar fortes emoções. As fantasias e os carros alegóricos nos desfiles das escolas de samba, as músicas e a animação na folia que toma as ruas do país são espetáculos de luz e cor. Muitos artistas fizeram dessa imensa manifestação da cultura popular o tema de suas telas, canções e tantas outras criações artísticas.

O carioca Heitor dos Prazeres (1898-1966) é um desses artistas. Desde muito cedo, já fazia parte do mundo do samba. No Rio de Janeiro, participou da fundação das primeiras escolas de samba do país, interpretou e compôs vários clássicos da música brasileira, além de ter retratado o carnaval em várias de suas telas.

Heitor dos Prazeres é filho do samba

Sobrinho de Hilário Jovino Ferreira, um dos pioneiros dos ranchos cariocas, ganhou seu primeiro cavaquinho ainda na infância. Na companhia do tio, frequentava a casa das tias baianas (Tia Ciata e Tia Esther), onde conheceu músicos pioneiros do samba, como Donga e João da Baiana. No Estácio, entrou em contato como outros nomes importantes, como Ismael Silva, Nilton Bastos e Marçal.

Daí foi um passo para circular com maestria entre os compositores da Mangueira, Cartola em especial, e com Paulo da Portela, em Oswaldo Cruz. Foi assim que passou a compor, chegando a vencer um concurso de samba, em 1927, com a música “A Tristeza me Persegue”.

Entre suas composições, estão “Carioca Boêmio”, sucesso com Orlando Silva; “Consideração”, parceria com Cartola; “Lá em Mangueira”, com Herivelto Martins; e “Pierrô Apaixonado”, que fez com Noel Rosa.

Pequena África foi o berço do samba carioca

Historicamente, a Praça XI e seus arredores são vistos como uma região carioca de valorização da cultura negra. No final do século XIX, era um reduto dos negros e baianas, que mantinham vivos seus ritos afro-brasileiros e se divertiam com o samba. Tanto que em 1984 foi construída no local a Passarela do Samba, o popular Sambódromo.

Foi para esse local da cidade do Rio de Janeiro que muitos ex-escravizados, vindos da Bahia, migraram. Então, Heitor dos Prazeres, que era descendente de negros baianos, passou a denominar a localidade como a “Pequena África”.

É nesse trecho da cidade, que vai da Pedra do Sal, no sopé do Morro da Conceição, até a Cidade Nova, que aconteciam as festas nas casas da Tia Ciata e Tia Esther. Dito isso, podemos dizer que está localizado geograficamente o berço do samba.

Heitor dos Prazeres pinta o carnaval

Todos esses cenários foram retratados por Heitor dos Prazeres em suas pinturas. Cenas cotidianas, como a vida nas favelas, as crianças, o bilhar, os bares, o universo familiar e as festas populares, com destaque para o samba.

Samba no canavial, Heitor dos Prazeres, 1950
Samba no canavial, Heitor dos Prazeres, 1950

 

Samba no terreiro, Heitor dos Prazeres, 1957
Samba no terreiro, Heitor dos Prazeres, 1957

A alegria da música e do carnaval materializada em gestos que remetem aos movimentos da dança, presentes em telas como “Samba no canavial” (1950), “Samba no terreiro” (1957), “Pierrô e Sambistas” e “Carnaval”, comprovam que Heitor dos Prazeres foi um artista que integrou de forma magistral samba, carnaval e pintura na realização de sua arte.

Pierrot e sambistas, Heitor dos Prazeres
Pierrot e sambistas, Heitor dos Prazeres

 

Carnaval, Heitor dos Prazeres
Carnaval, Heitor dos Prazeres

Transitando entre a música e as artes plásticas, a folia nas ruas e as rodas de samba, assim Heitor dos Prazeres viveu e imortalizou suas obras. Para conhecer personagens, cenários e as cores do carnaval basta ver suas telas. E, para uma experiência completa, fazer isso ao som de seus belos sambas.

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André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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