Menina pequena em uma poltrona azul, Mary Cassatt, 1878

Mary Cassatt: uma artista talentosa, determinada e feminista

A artista americana Mary Cassatt tornou-se conhecida por suas belíssimas pinturas que representam cenas familiares. Ela viveu boa parte de sua vida na França, onde estudou e desenvolveu sua carreira artística. Convidada pelo amigo e pintor Edgar Degas, passou a integrar o grupo dos impressionistas, onde sempre expressou suas fortes opiniões sobre arte e seus preconceitos contra a tradição dos salões oficiais.

Ela foi a única americana oficialmente associada ao movimento impressionista e participou de quatro (1879, 1880, 1881 e 1886) das oito exposições do grupo. Seus posicionamentos críticos eram bem marcados, em especial quando se tratava de questões relacionadas às mulheres. Nesse sentido, ela se recusava a receber prêmios e a participar de mostras de artistas mulheres, pois acreditava que na arte não deveria haver essa distinção.

Cassat decide ser pintora profissional

Mary Cassatt nasceu no dia 22 de maio de 1844, no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos. De família rica, seu pai era um bem sucedido corretor e especulador de terras e sua mãe era uma mulher bem educada, inteligente, ativa.

Como era comum às mulheres da época, Mary aprendeu sobre tarefas de casa, mas também recebeu educação formal de qualidade, da qual fazia parte conhecer outras culturas. E foi graças a esse costume que ela pôde morar durante cinco anos na Europa, de 1851 a 1855.

Nessa época, ainda criança, conheceu várias capitais, aprendeu francês e alemão e teve contato com a arte e a cultura europeia. No último ano desse período de residência no velho continente, ela conheceu Edgar Degas, artista que se tornaria seu grande amigo e mentor e a ajudaria a dar um importante passo em sua futura carreira.

De volta aos Estados Unidos, Mary decidiu que queria se tornar pintora profissional. Porém, seus pais não apoiaram a decisão da filha, pois tinham receio que ela ficasse exposta ao comportamento boêmio dos artistas e às ideias feministas que começavam a despontar entre as jovens.

Porém, mesmo tendo somente 15 anos, desafiou a família e se matriculou na Pennsylvania Academy of the Fine Arts, instituição em que as mulheres representavam somente 20% dos estudantes de arte.

Em 1865, ela foi estudar arte em Paris. Lá teve aulas particulares com artistas respeitados, como Jean-Léon Gérôme e Charles Chaplin (homônimo do famoso artista). Como reconhecimento pelo esforço e talento, em 1868 conseguiu que sua pintura “O tocador de bandolim” fosse aceita no Salão de Paris.

O Tocador de Bandolim, Mary Cassatt, c. 1872
O Tocador de Bandolim, Mary Cassatt, c. 1872

Surge uma nova impressionista

Foi somente em junho de 1874 que Mary foi morar definitivamente em Paris, após visitar outras cidades e retornar algumas vezes aos Estados Unidos. Com isso, ela passou a expor regularmente nos Salões e a ter uma movimentada vida artística.

Foi nesse contexto que sua amizade com Degas se tornou mais intensa. Como seus estúdios eram próximos¸ os encontros e as trocas artísticas se tornaram mais frequentes.

Em 1877, Edgar Degas convidou a amiga a se juntar aos artistas independentes que mais tarde ficaram conhecidos como os impressionistas. Neste mesmo ano, os pais de Mary e sua irmã Lídia também se mudaram para a capital francesa.

A proximidade familiar, em especial da irmã, foi motivo de alegria e fonte de inquietação para Mary, pois seu pai insistia que a renda com as vendas das obras deveria ser suficiente para cobrirem as despesas de seu estúdio.

Incomodada e preocupada com o risco de ter que passar a pintar qualquer tema apenas para ganhar dinheiro, Mary resolveu produzir alguns quadros de qualidade para a próxima exibição impressionista. Dentre eles, destacaram-se “Autorretrato”, “Menina pequena em uma poltrona azul”, e “Lendo Le Figaro”, todos produzidos em 1878.

Autorretrato, Mary Cassatt, 1878
Autorretrato, Mary Cassatt, 1878
Menina pequena em uma poltrona azul, Mary Cassatt, 1878
Menina pequena em uma poltrona azul, Mary Cassatt, 1878
Lendo Le Figaro, Mary Cassatt, 1878
Lendo Le Figaro, Mary Cassatt, 1878

A arte de uma pintora feminista

Mary Cassatt foi uma pintora muito experimental no uso dos materiais, como as tintas metálicas. Ela empregava com eficiência os tons pasteis, criando vários quadros nessa linha.

Ela era fascinada pelo vínculo entre mães e filhos, apesar de nunca ter se casado, nem tido filhos. Na pintura “Caricia Maternal” (1902), por exemplo, vemos uma criança ajoelhada no colo da sua mãe, dando-lhe um forte abraço e recebendo um beijo em troca.

Caricia Maternal, Mary Cassatt, 1902
Caricia Maternal, Mary Cassatt, 1902

A tela “Lydia Cassatt” (1880) é um retrato da irmã da artista, que foi uma das suas principais modelos. É interessante observar as pinceladas soltas e expressivas da artista para representar o casaco colorido. Em “Jovem costurando” (1880-1882), há um delicado tratamento de luzes e cores, realçando mais uma vez a relação próxima entre mãe e filha.

Lydia Cassatt, Mary Cassatt, 1880
Lydia Cassatt, Mary Cassatt, 1880
Jovem costurando, Mary Cassatt, 1880-1882
Jovem costurando, Mary Cassatt, 1880-1882

A pintora faleceu aos 82 anos, no dia 14 de junho de 1926, em Château de Beaufresne, perto de Paris. Mary Cassatt foi a penúltima dentre os principais membros do grupo dos Impressionistas a falecer, poucos meses antes de Monet.

Durante toda sua vida, ela lutou pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. Apoiou as manifestações feministas que exigiam acesso das mulheres às faculdades e universidades. Na década de 1910, lutou pelo direito de votar.

Mary Cassatt foi uma artista talentosa, determinada e feminista, que até hoje inspira mulheres do mundo inteiro.

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André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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