Mondrian e a arte universal: cores, formas e abstração

Principal idealizador do Neoplasticismo, Piet Mondrian pretendia que a sua arte se libertasse da figuração e se tornasse universal, simplificando as formas e as cores a uma essência. No entanto, seu processo de abstração na pintura, chegando a retângulos e a poucas cores chapadas, foi resultado de muitos estudos anteriores, feitos na década de 1910. Até hoje, o estilo desenvolvido por esse grande artista influencia arquitetos, designers e as artes gráficas.

Mondrian nasceu no dia 7 de março de 1872 em Amersvoot, na Holanda. Seu nome verdadeiro era Pieter Cornelis Mondrian e, inicialmente, sua formação foi influenciada pelo Calvinismo. Porém, a medida que desenvolveu seus estudos artísticos, foi buscando outras bases para sua formação. Consequentemente, essas iniciativas impactaram sua visão de mundo, o que refletiu de forma definitiva em sua forma de pintar.

A Árvore Vermelha, Mondrian, 1910
A Árvore Vermelha, Mondrian, 1910
A Árvore Cinza, Mondrian, 1911
A Árvore Cinza, Mondrian, 1911

O tema de suas primeiras pinturas eram paisagens serenas com cores escuras, que aos poucos foram ganhando tonalidades vivas. Na série de telas sobre árvores, como “Árvore vermelha” (1910) e “Árvore cinza” (1911), buscou retratar a natureza para ir em busca da abstração, através do estudo das cores e das formas. Mas, com o tempo foi decompondo objetos e paisagens em traços básicos, em busca de com o mínimo se expressar ao máximo.

Em Paris, Mondrian define sua arte

Em 1912, ao mudar-se para Paris, a carreira de Mondrian passa por grandes transformações, principalmente após travar contato com artistas abstracionistas e cubistas, como Pablo Picasso e Georges Braque. É fruto desse encontro sua perspectiva de abstrair uma figura até que ela desaparecesse.

Outro ponto fundamental que ajudou a definir a obra de Mondrian foi o rompimento com o Calvinismo e sua aproximação com a Teosofia, crença mística que articula religião, filosofia e ciência. Com isso, ele passou a defender a ideia de que a arte não se limitava à reprodução da natureza, pois estava relacionada à realização de uma experiência transcendental.

Também foi em Paris que Mondrian, em parceria com o amigo Theo Van Doesburg, organizou um grupo de artistas para publicar, em 1917, a revista De Stijl (O Estilo). Nessa época, ele aproveitou a publicação para popularizar o Neoplasticismo, estilo de arte caracterizado pelo abstracionismo geométrico.

Mondrian e o Neoplasticismo

Tendo Mondrian como expoente máximo, o Neoplasticismo buscava a limpeza de elementos, reduzindo a pintura a formas, linhas e cores puras. O objetivo dos artistas era alcançar um senso de equilíbrio e harmonia. Para isso, usavam apenas cores primárias, além do preto e do branco.

Assim, podemos dizer que o Neoplasticismo é resultado da integração da experiência cubista, ao desfigurar as formas tradicionais de representação, e a teosofia, que trouxe ideias místicas e espiritualidade para o processo de criação e de representação artística.

Evolução, Mondrian, 1911
Evolução, Mondrian, 1911

Na obra “Evolução” (1911), as figuras de três mulheres nuas, ao lado de formas geométricas, já revelam o caráter místico e a evolução de Mondrian rumo à abstração. Mas é em “Composição em tabuleiro de damas com cores claras” (1919) que é possível observar características que consagrariam sua arte.

Composição em tabuleiro de damas com cores claras, Mondrian, 1919
Composição em tabuleiro de damas com cores claras, Mondrian, 1919

A arte universal de Mondrian

De forma geral, as pinturas geométricas abstratas de Mondrian não tinham centro, pois de acordo com ele as margens têm a mesma importância que o centro. Assim, suas telas representam linhas pretas horizontais e verticais, que formavam quadrados e retângulos pintados com cores primarias. Em alguns casos, as figuras aparecem delimitadas por fortes traços pretos, como em “Composição com vermelho, amarelo e azul” (1921).

Composição com vermelho, amarelo e azul, Mondrian, 1921
Composição com vermelho, amarelo e azul, Mondrian, 1921

A fama o levou a realizar diversas exposições em Paris e Berlim. Em 1940, mudou-se para Nova Iorque, onde passou a se expressar com mais liberdade em seus quadros. Em vez de linhas pretas, nessa fase as áreas dos quadros eram unidas por cores vivas. “Broadway Boogie-Woogie” (1942) é uma tela desse período, a qual traz uma combinação de cores dispostas em linhas amarelas similares a grades. O título do quadro é uma homenagem ao estilo musical boogie-woogie, que era muito apreciado pelo artista, um fã de música nova-iorquina.

Broadway Boogie Woogie, Mondrian, 1942
Broadway Boogie Woogie, Mondrian, 1942

Como disse acima, o impacto do Neoplasticismo foi além das artes visuais, estendendo-se a outros campos. Ao usarem os preceitos do Neoplasticismo em objetos industrializados ou moradias, os designers e arquitetos realizaram o sonho de Mondrian: transformaram a sua arte numa linguagem universal!

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André Dorigo
André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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