Nise da Silveira e a Revolução pela Arte

Nise da Silveira nasceu em Maceió, em 1905, e foi uma médica revolucionária! Num contexto em que os pacientes psiquiátricos eram tratados com eletrochoques e lobotomia, ela introduziu uma linha terapêutica nova em que os estimulava a desenvolver a criação artística e os laços afetivos.

Os anos de formação

Nise percorreu uma trajetória bastante singular. Nos anos 1920, cursou medicina na Bahia e se formou como a única mulher entre os 157 homens da turma, tornando-se uma das primeiras mulheres no Brasil a exercer a profissão de médica.

Casou-se com o sanitarista Mário Magalhães da Silveira, seu colega de turma na faculdade, com quem viveu até seu falecimento, em 1986. Mário estava alinhado à esposa em seu interesse por relacionar questões sociais e promoção da saúde no Brasil.

Nise se engajou na política e chegou a ficar 18 meses presa durante a ditadura do Estado Novo, nos anos 1930. Tornou-se, inclusive, personagem do livro Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, com quem conviveu durante o encarceramento.

Sua linha terapêutica revolucionária

Iniciou, em 1944, seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, onde empreendeu a sua luta contra as técnicas psiquiátricas que considerava agressivas aos pacientes.

Por sua discordância com os métodos adotados nas enfermarias, recusando-se a aplicar eletrochoques em pacientes, Nise foi transferida para o trabalho com terapia ocupacional, atividade então menosprezada pelos médicos.

Foi ali que desenvolveu sua linha terapêutica, criando ateliês de pintura e modelagem, possibilitando aos doentes, aos quais chamava de “clientes”, reatar seus vínculos com a realidade e consigo mesmos, explorar suas criatividade, resgatar a sua autoestima e dar vazão às suas questões mais profundas.

Além disso, eram incentivados a ter animais de estimação que lhes ajudariam a cultivar laços afetivos.

A médica manteve correspondência com Carl Gustav Jung. Ela chegou a debater com ele alguns casos de seus pacientes, além de mostrar-lhe as produções artísticas deles. Através dessa colaboração, Nise introduziu as ideias de Jung no Brasil.

Correspondência mantida entre Nise e Jung sobre os pacientes dela
Correspondência mantida entre Nise e Jung sobre os pacientes dela e seus trabalhos de arte

Criação do museu

Em 1952, ela inaugurou o Museu de Imagens do Inconsciente, onde passou a organizar e a disponibilizar os trabalhos dos pacientes para a realização de pesquisas e exposições. Hoje o museu conta com um acervo de milhares de pinturas, esculturas, textos e poemas.

As obras estão divididas entre:

Artistas Históricos: onde se encontram obras da época em que um muro cercava a instituição. Inclusive, Nise mandou retirar e trocar por um aramado, que permitia a comunicação com o mundo exterior. As obras daquela época mostram a tristeza e a solidão provocados pelo isolamento. Dentre os artistas dessa fase, muitos alcançaram sucesso e relevância para além do interesse psiquiátrico, como é o caso de Emygdio de Barros, Heitor Rico e Fernando Diniz.

Obra de Fernando Diniz, 1956
Obra de Fernando Diniz, 1956
Obra de Emygdio de Barros, 1968
Obra de Emygdio de Barros, 1968

Artistas Contemporâneos: onde se expõem as obras de artistas ainda vivos e em tratamento na instituição. Nesse espaço, vê-se claramente o caráter espontâneo e em desenvolvimento das obras, mantendo a intenção primordial da instituição, de ser um “museu vivo”.

Obras de Renoir Silva, 2014-15
Obras de Renoir Silva, 2014-15

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Cartaz do filme "Nise, o coração da loucura"
Cartaz do filme “Nise, o coração da loucura”

 

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André Dorigo
André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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