Salvador Dalí é um dos mais populares e controversos artistas do século XX. Seu talento e criatividade não tinham limites. Além da pintura, também trabalhou com escultura, gravura e desenho de figurinos para cinema, teatro e dança.
Não há adjetivos suficientes para definir Dalí: excêntrico, extravagante, egocêntrico, provocador ou polêmico. Com uma grande habilidade para o desenho, ele foi um dos maiores expoentes do Surrealismo.
Criou obras singulares que contêm ingredientes como ilusões de ótica, truques de perspectivas e hologramas, compondo um universo com relógios que derretem, formigas e corpos mutantes.
Surge um expoente do Surrealismo
Dalí nasceu no dia 11 de maio de 1904, na cidade de Figueres, na Espanha. Aos 13 anos de idade, começou a frequentar uma escola de desenho em sua cidade natal. Porém, foi aos 18 anos que deu um passo fundamental para alavancar sua carreira: ingressou na Academia de Belas Artes de San Fernando, em Madrid.
Na capital espanhola, foi morar na Residência dos Estudantes, onde conheceu o poeta Frederico Garcia Lorca e o cineasta Luís Buñuel, dos quais se tornou amigo.
No entanto, a passagem de Dalí pela Academia de Belas Artes não foi nada pacífica. Apesar de ainda ser bem jovem, já demonstrava possuir um temperamento um tanto intempestivo. Prova disso, foi sua recusa em participar de um exame oral, alegando ter mais conhecimentos que a banca de professores. Tal atitude o levou a ser expulso da instituição.
Uma das obras realizadas nesse período foi o “Autorretrato com L’Humanité” (1923), pintura que ainda apresentava características cubistas. No entanto, após sua expulsão da Academia, Dalí resolver deixar Madrid e viajar pela Europa.
O ano de 1927 foi um divisor de águas na trajetória de Dalí. Logo após se instalar em Paris, ele se tornou membro oficial do movimento Surrealista, que era liderado pelo poeta André Breton. Influenciados pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, os surrealistas buscavam explorar a criatividade usando o potencial do inconsciente.
Com base nessa nova visão, Dalí passou a usar o inconsciente como fonte de imagens fantásticas para a concepção de suas obras de arte.
Em 1929, Dalí realizou em Paris sua primeira mostra individual. Nesse mesmo ano, conheceu Gala, sua primeira e única mulher, com a qual viveu por 53 anos. Também é de 1929 a tela “Jogo Lúgubre”, um de seus primeiros trabalhos dentro da estética surrealista.
A arte do inconsciente
A segunda mostra individual de Dali foi realizada em 1931, também em Paris. Foi nessa ocasião que ele apresentou a tela Persistência da Memória (1931), que se tornaria um de seus trabalhos mais conhecidos e admirados no mundo. No quadro, vemos a imagem da fusão de um relógio de bolso.
Daí em diante, foram inúmeras as obras que cada vez mais ajudaram a consolidar a arte de Dalí. “O sono”, de 1937, é uma delas. Em uma paisagem árida, observamos uma cabeça mole, de grandes proporções e sem corpo, dormindo amparada por muletas.
O sono em si é um tema importante para os surrealistas. Era visto por eles, que seguiam as teorias freudianas, como um momento em que é possível se desligar do cotidiano e se conectar com o inconsciente.
Em “A face da guerra” (1940-41), Dalí materializa os horrores e brutalidades da guerra. Concebida no período posterior à Guerra Civil Espanhola e durante a Segunda Guerra Mundial, a tela mostra uma grande caveira, cujos olhos e bocas representam outras caveiras, das quais saem outras caveiras.
Já em “A tentação de Santo Antônio” (1947), o artista aborda a questão sexual: um homem santo sendo importunado por imagens relacionadas ao desejo sexual e à luxúria.
Dalí multiartista
“Telefone Lagosta” (1936) e o “Sofá-lábios de Mae West” (1937) são obras que realçam, e muito bem, a atuação de Dalí como escultor.
A primeira foi vista como uma obra com forte conotação sexual, inclusive pelo próprio autor, para quem ela promovia uma estreita analogia entre alimentos e sexo. Já a segunda escultura foi moldada após Dalí observar (fascinado) os lábios da atriz Mae West.
Outra vertente de Dalí é como ourives. Até a década de 1970, ele criou um conjunto de 39 joias, sendo “The Royal Heart” a mais famosa delas. Toda trabalhada em ouro, a jóia ainda tinha 46 rubis, 42 diamantes e quatro esmeraldas incrustradas em sua estrutura.
O teatro e o cinema também foram espaços de atuação para Dalí, mas em projetos realizados a convite de amigos de juventude em Madrid: Garcia Lorca e Luís Buñuel. Para o primeiro, criou o cenário da peça “Mariana Piñeda” de 1927.
Com o segundo, participou da produção de filmes, sendo que o mais conhecido é “Um cão andaluz”, do qual foi coautor do roteiro. Na verdade, trata-se de um curta-metragem francês de 17 minutos, muito lembrado pela cena em que é simulada a abertura de um globo ocular com uma navalha.
Imagem marcante
Dalí não despertava atenção somente por causa de suas fantásticas criações, mas também pela sua personalidade excêntrica. O mesmo pode ser dito de seu figurino: cabelos longos, gravata desproporcionalmente grande e uma capa longa que quase cobria os pés. Mas, de fato, sua marca registrada é o seu inconfundível bigode, lembrado até os dias de hoje.
Em 1961, foi inaugurado o Teatro-Museu Dalí na cidade natal do artista. O projeto é do próprio Dalí e é considerado sua maior obra de arte. Lá estão expostas muitas de suas principais obras, além de outras feitas exclusivamente para o espaço.
Para Dalí, “tudo o que é contraditório cria vida”. Refletir sobre essa frase é uma bela forma de homenagear o artista hoje e sempre.