Yayoi Kusama e sua Psicodelia Lúdica

A artista japonesa Yayoi Kusama revelava, desde a infância, traços de uma identidade visual bastante peculiar: um persistente fascínio caracterizado pela repetição obsessiva de elementos diversos em um espaço infinito.

Os mais conhecidos desses elementos são as famosas bolinhas, que, como outros aspectos de suas obras, são frutos de alucinações que ela transpõe para a arte, que ocupam um lugar central na definição da arte de Kusama.

As formas e cores que aparecem nas suas visões são transpostas para as mais diversas mídias. Indo do privado ao público, da pintura à performance, do ateliê às ruas, Kusama é considerada a artista japonesa viva mais proeminente da atualidade.

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Yayoi Kusama

Como surgiu o insight artístico de Yayoi Kusama?

Como ela mesma conta, sua inspiração vem do universo, da humanidade e, principalmente, das ilusões e sonhos que povoam sua vida interior, os quais são oriundos de conflitos mentais que impulsionam sua criatividade.

Yayoi Kusama nasceu em 22 de março de 1929, em Matsumoto, uma província rural do Japão. De família conservadora, que não via com bons olhos o interesse da filha pela arte, aos dez anos de idade começou a pintar suas bolinhas infinitas com aquarela, lápis pastel e óleo.

Também já na infância, ela foi diagnosticada como portadora de transtorno obsessivo compulsivo, sujeita a ter alucinações. A artista conta que, por sorte, foi atendida ainda jovem por um psiquiatra de mente aberta, que a orientou a investir na criação artística baseada em sua doença mental.

Desde então, desenvolver a criatividade e materializá-la em inúmeras obras de arte tem sido o caminho trilhado pela artista para lutar contra seus sentimentos de morte.

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Sala de Obliteração, Obsessão Infinita, 2012

 

Do interior do Japão ao cenário icônico de Nova York

Para fugir do ambiente sufocante de sua terra natal, aos 28 anos de idade se mudou para Nova Iorque, com o apoio da pintora norte-americana Georgia O’Keeffe. Kusama viveu nos Estados Unidos entre 1957 e 1973.

Essa foi a fase durante a qual produziu muitos de seus trabalhos mais conhecidos. Foi lá também que começou a fazer performances em que pessoas sem roupa tinham o corpo preenchido por suas bolinhas.

Em 1973, Kusama resolveu retornar ao Japão e se internar em uma instituição psiquiátrica, onde vive até hoje por vontade própria. Mas isso não impediu que ela continuasse a produzir. Nas proximidades do hospital, ela mantém um apartamento e um ateliê, onde segue criando sua arte infinita.

Qual a principal obra de Yayoi Kusama?

Sua série mais celebrada é “Infinity Net” (Rede Infinita). Produzida no final dos anos 1950 e no início dos 1960, traz sua marca original caracterizada pela repetição obsessiva de pequenos arcos pintados.

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Rede Infinita, c. 1960

Também é desse período as esculturas conhecidas como “Accumulations” (Acumulações), além das performances e happenings que se tornaram ícones da subcultura marginal, ao ponto de colocá-la no centro das atenções.

Um de seus trabalhos mais inspirador é “Campo de falos” (1965), uma grande área repleta de formas fálicas decoradas com bolinhas brancas e vermelhas, rodeada de espelhos. Outra obra importante é “Cheia de brilho da vida” (2011), em que as bolas estão presentes sob a forma de lâmpadas coloridas que ficam piscando.

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Campo de Falos, 1965
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Cheia de Brilho de Vida, 2011

Já “Narcissus Garden”, obra originalmente criada para a Bienal de Veneza de 1966, foi instalada em diversos países. No Brasil, foi montada, em 2009, no Instituto Inhotim, em Brumadinho (Minas Gerais).

A instalação tem como base 500 esferas de aço inoxidável que flutuam sobre um espelho d’água, criando formas diversas à medida que se movimentam. As esferas refletem a imagem do espectador e a obra é inspirada no mito de Narciso, que se encanta pela própria imagem projetada na superfície da água.

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Narcissus Garden Inhotim, 2009

O sucesso mundial de Yayoi Kusama

Hoje, Yayoi vive o auge de sua fama internacional. Seu reconhecimento é grande ao ponto de ser uma das artistas plásticas mais bem remuneradas no mundo. Porém, apesar da fama, somente há pouco tempo conseguiu realizar grandes exposições internacionais. Em 2011, por exemplo, foi atração no Reina Sofía, em Madri, e no Centro Pompidou, em Paris.

Em 2013, na América Latina, o sucesso de sua exposição foi surpreendente. Ao longo de mais de dois meses, sob o frio do inverno, os argentinos fizeram fila para ver a mostra, que bateu um recorde de público. Esse fato também se repetiu no Brasil.

“Obsessão infinita” apresentou em torno de cem obras de Yayoi, feitas entre 1949 e 2012, incluindo esculturas, pinturas, vídeos, apresentações em slides e, principalmente, instalações.

Em homenagem à artista, foi criado no Japão o Museu Yayoi Kusama. Projeto da Fundação da artista, sediado em Tóquio, o museu expõe mais de 600 peças de Kusama que narram sua história e apresentam detalhes de sua estética e seu processo criativo.

Yayoi, artista multimídia

Aos 94 anos, Kusama segue ativa, trabalhando e espalhando a sua estética única, que poderia ser chamada de psicodelia lúdica, pelas mais diversas mídias. E a sua aparência, com roupas temáticas e peruca de cabelos bem vermelhos, ajuda a compor a mítica em torno da sua persona.

Recentemente, Yayoi emprestou a sua arte e a sua figura únicas à marca de acessórios de luxo Louis Vuitton, que aplicou suas estampas em bolsas, sapatos e outras peças, e produziu vídeos e fotos divertidas em que a artista é garota-propaganda da coleção.

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Parceria Yayoi Kusama – Louis Vuitton, 2023

Clique aqui se quiser ver o resultado dessa parceria.

Por tudo isso, ainda há muito que se estudar sobre a obra e o fazer artístico dessa grande artista!

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André Dorigo
André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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