A trajetória artística de Ai Weiwei é marcada pela criatividade e pela experimentação, mas também pelas vivências que são fruto de seu ativismo social e político. Considerado um dos artistas mais influentes dos últimos tempos, o chinês é responsável por obras como uma árvore tropical de 32 metros de altura, feita de ferro, que foi instalada em 2021 na Cidade do Porto, em Portugal.
A escultura foi realizada com base em um molde de um pequi-vinagreiro, árvore ancestral que o artista conheceu em Trancoso, na Bahia, quando veio ao Brasil para ver de perto as ameaças sofridas pelas florestas do país. A expectativa de Weiwei é que a obra gere reflexões e conscientização sobre as graves consequências do desmatamento.
Outro trabalho recente foi o filme Coronation (2020), no qual o artista registrou o dia a dia da pandemia de Covid-19 em Wuhan, na China, cidade onde a crise sanitária mundial começou. A produção sofreu censura do Partido Comunista chinês e não foi aceita pelas principais plataformas de streaming. No entanto, o filme foi exibido no Festival de Cinema de Direitos Humanos de Genebra.
Entre o ocidente e o oriente
Ai Weiwei nasceu no dia 28 de agosto de 1957, em Pequim, mas menos de um ano depois teve que deixar a cidade. Sua família foi exilada após seu pai (que era poeta) ser acusado de direitista pelo governo. Inicialmente foram viver em Heilongjiang, no nordeste do país, e depois nos desertos de Xinjiang, no noroeste da China.
Só retornaram a Pequim em 1976, após a morte de Mao Tsé-Tung e o fim da Revolução Cultural. Nesse período, estudou animação e ajudou a fundar o grupo The Stars, com o qual realizou vários shows.
Em 1981, Weiwei mudou-se para Nova York, onde morou por dez anos. Lá, estudou um pouco de Design e se encantou com as obras de Marcel Duchamp e Andy Warhol. Em 1993, retornou para a China para cuidar do pai doente. Logo se juntou a um grupo de artistas de vanguarda e fundou a East Village de Pequim. Daí em diante, criou outros espaços de arte alternativa.
Logo veio seu interesse pela arquitetura, outra forma de expressar de sua arte. Em 1999, projetou seu próprio estúdio e começou a atuar na profissão através da FAKE Design.
Ai Weiwei é um crítico do governo chinês, ao qual acusa de corrupção e desrespeito aos direitos humanos e à liberdade de expressão. Por causa de suas inúmeras denúncias, já foi preso, colocado em isolamento e proibido de sair do país.
Em suas obras, é possível perceber sentimentos contraditórios em relação a seus sentimentos em relação à cultura ocidental e a de seu país natal. Ora se mostra interligado às suas raízes, ora se rebelando contra elas.
Arte conceitual e engajada
Weiwei é famoso por suas obras de arte conceituais. Em 2008, durante os Jogos Olímpicos de Pequim, o mundo se deslumbrou com o Ninho de Pássaro (Estádio Nacional de Pequim), obra em que Ai Weiwei foi o assessor artístico.
“Straight”(2008-2012) é uma instalação inspirada nas consequências do terremoto que atingiu a província chinesa de Sichuan, em 2008. Nela, o artista empregou toneladas de barras de aço retorcido retiradas dos escombros.
Um de seus trabalhos mais elogiados é “Sementes de girassol” (2010). A obra é composta por 100 milhões de sementes de porcelana, pintadas à mão por artesãos chineses, que foram espalhadas pelo chão.
Outra obra fundamental é “Derrubando uma urna da dinastia Han” (1995), na qual três fotos mostram o artista quebrando o artefato. O ato se refere à destruição de relíquias tradicionais durante os anos da Revolução Cultural (1966-1976). Em 2015, ele recriou as mesmas imagens usando peças de Lego.
A instalação “S.A.C.R.E.D” (2011-2013) mostra em detalhe a cela de uma prisão com esculturas muito realistas. Elas representam o próprio Weiwei com guardiões que o vigiam permanentemente, inclusive durante o banho ou ao dormir.
Já “Ciclo vital” (2018) busca uma reflexão sobre a crise global dos refugiados e “Círculo de animais” (2011), instalação formada por doze cabeças representando os animais do zodíaco, faz uma crítica ao saque e à repatriação dos bens culturais das nações conquistadas.
Esculturas, instalações, arquitetura, curadoria, fotografia, cinema e crítica social, política e cultural. São várias as facetas da arte de Ai Weiwei, o que possibilitou que seu trabalho integrasse coleções de várias instituições, como o Centro Pompidou e o Museu Guggenheim.
Segundo ele, em entrevista ao jornal El País, “a sociedade civil precisa defender a liberdade de expressão e uma voz independente. Se não tivermos isso, não teremos o controle sobre o futuro”.