Sebastião Salgado, Kuwait, 1991

Fotografia: modos de ver o mundo

Inicialmente a fotografia foi definida como uma técnica de criação de imagens por meio da exposição luminosa. Imagens essas que eram fixadas em uma superfície sensível, que podia ser uma placa de vidro, metal, gelatina ou papel. Porém, o tempo passou, a tecnologia continuou se desenvolvendo e a fotografia ganhou sua versão digital.

Hoje em dia, a maioria das pessoas produz suas próprias fotografias com relativa facilidade. Basta observar como é comum ver gente fotografando tudo o que vê: lugares, detalhes do cotidiano, festas, amigos, familiares e crianças. Isso sem falar nas famosas selfies, que vemos nos inúmeros perfis das redes sociais.

No início, a fotografia era uma atividade desenvolvida por poucos e um produto de consumo restrito, em função do alto preço, tanto para quem produzia, como para quem a adquiria.

No entanto, ao longo do tempo, a fotografia virou um produto de consumo popular, pois foram criados equipamentos bem mais baratos e de fácil manuseio, bem como tecnologia de baixo custo para revelar essas imagens. Mas foi a tecnologia digital que ampliou de forma definitiva essa realidade.

As câmeras digitais, as profissionais ou as mais simples produzidas para amadores, ganharam inúmeros recursos que as tornaram mais acessíveis e capazes de produzir imagens de alta definição. Inclusive, pode-se dizer que grande parte das fotografias que vemos na internet ou recebemos em aplicativos de mensagens foram feitas com o uso de um celular.

Esse equipamento possibilita uma simplificação dos processos de captação, armazenagem, impressão e reprodução de fotografias. Tudo isso, aliado a recursos disponíveis na internet e em diversos aplicativos, amplia e democratiza a produção e o uso da imagem fotográfica.

Apesar de todas essas mudanças, muitas das técnicas e princípios elaborados lá nos primórdios da história da fotografia ainda continuam válidos.

Origens e desenvolvimento

A fotografia não é um invento de uma única pessoa ou de um tempo específico. Como muitas inovações reveladas pela ciência, diversos estudiosos do assunto contribuíram para que um dia pudéssemos ver nossa imagem fixada em uma superfície.

Muitos pesquisadores identificam como pioneiros os estudos realizados pelo napolitano Giovanni Baptista Della Porta. Em 1558, ele desenvolveu o conceito de câmara escura.

Trata-se de uma caixa com um orifício em uma de suas faces, através do qual entra a luz refletida por algum objeto externo e atinge a superfície interna oposta, onde se forma uma imagem invertida do mesmo objeto.

Já a primeira fotografia é atribuída ao francês Joseph Niépce (1763-1828), a qual foi exibida no verão de 1826. O pioneiro estudava as propriedades do cloreto de prata sobre papel desde 1817, o que mostra a importância dos conhecimentos e experimentos da química e da física para o desenvolvimento dos processos de fixação da imagem.

Em 1839, o físico e pintor francês Louis-Jacques-Mandé Daguerre apresentou ao mundo o daguerreótipo, equipamento que fixava as imagens obtidas na câmara escura em uma folha de prata sobre uma placa de cobre. Uma verdadeira inovação!

Porém, esse não era um processo simples, nem barato. Exigia paciência tanto do fotógrafo como de quem posava, pois era necessário muito tempo de exposição para a fixação da imagem. Outro problema era o peso do equipamento, que também dificultou sua popularização.

Eugène Durieu/Eugène Delacroix, Nu de Costas, c. 1853
Eugène Durieu/Eugène Delacroix, Nu de Costas, c. 1853

Popularização da fotografia

Com o tempo, novas tecnologias foram desenvolvidas e a fotografia foi se tornando mais acessível. Várias foram as invenções e aperfeiçoamentos. Em 1840, o químico inglês John F. Goddard criou lentes com maior abertura. No ano seguinte, o também inglês William Henry Fox Talbot criou o calótipo para aperfeiçoar o processo de fixação de imagens.

Outro passo importante foi a divulgação da primeira fotografia colorida, em 1861. A novidade levava a assinatura do físico escocês James Clerk Maxwell. Por ouro lado, os irmãos Louis Lumière conseguiriam colocar as imagens em movimento, o que deu origem ao cinema.

Em 1901, uma nova reviravolta marca a história mundial da fotografia: a empresa americana Kodak lançou uma câmera comercial e popular (a Brownie-Kodak). Esse foi apenas uma dentre outras inovações no sentido de popularizar a arte da fotografia.

Em 1935, a Kodak criou a primeira linha de filmes coloridos e, tempos depois, em 1990 lançou suas primeiras câmeras digitais baratas e de fácil manipulação. Já a também americana Polaroid criou a fotografia colorida instantânea (1963).

A fotografia no Brasil

No Brasil, no dia 8 de janeiro é comemorado o Dia Nacional do Fotógrafo. Considera-se que neste dia, no ano de 1840, o francês Louis Comte trouxe o primeiro daguerreótipo ao país e o apresentou ao Imperador D. Pedro II, que era grande entusiasta da nova invenção.

Porém, a história da fotografia no país começou a ser desenhada alguns anos antes, graças aos experimentos de Hercules Florence (1804-1879), jovem francês radicado no Brasil.

Sua paixão por viagens e aventuras marítimas o levou a participar como pintor e desenhista de expedições oficiais pelo interior do Brasil. Mas, ao se fixar em Campinas (SP), passou a se dedicar de forma autodidata a processos de impressão e a estudos sobre os efeitos da luz na pintura. A partir daí, construiu uma câmara escura e mergulhou de vez nas investigações sobre a fotografia.

Conseguiu fixar algumas imagens e chegou a explorar o uso de várias substâncias para o processo de impressão, chegando, inclusive, a tentar a impressão direta pela ação da luz solar.

Desde o início de suas experiências, ele já empregava materiais e processos semelhantes aos utilizados pelos franceses Joseph Niépce e Louis Daguerre e pelo inglês Henry Fox Talbot, inventores da fotografia em seus países. Essas investigações pioneiras colocaram Hercules Florence entre os grandes inventores do século XIX.

Em 1833, ele finalmente chegou a resultados conclusivos de suas experiências. Entretanto, não conseguiu reconhecimento pelo seu invento, pois a qualidade de suas imagens era inferior à alcançada pela daguerreotipia. Por isso, muitos consideram 1833 como o ano da descoberta da fotografia em nosso país, seis anos antes do anúncio oficial da invenção na França.

Primeira fotografia da América do Sul

No dia 17 de janeiro de 1840, o abade francês Louis Comte produziu uma imagem do Paço Imperial, no Rio de Janeiro, com um daguerreótipo. Esse invento havia sido apresentado em Paris no dia 19 de agosto de 1839, hoje considerado o dia mundial da fotografia.

A imagem do Paço Imperial foi publicada no Jornal do Commercio, na época o principal diário da cidade. Para lembrar e valorizar esse acontecimento, foi instalado um pequeno monumento na Praça XV, no provável local onde foi produzida a imagem.

Comte era capelão de um navio-escola francês e aportou no Rio de Janeiro apenas de passagem. Além da fachada do Paço Imperial, ele também registrou o Chafariz do Mestre Valentim e o Mercado da Candelária, localizados na mesma praça.

Esses feitos deixaram o imperador D. Pedro II encantado ao ponto de, rapidamente, adquirir seu primeiro daguerreótipo. Daí em diante, ele se tornou o primeiro fotógrafo brasileiro e um grande divulgador dessa arte – tudo isso com apenas 15 anos de idade.

Desenhar com luz e contraste

A arte de fotografar conquistou o mundo. O olhar de inúmeros fotógrafos capturou imagens que passam a revelar muitos aspectos da realidade.

O francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004), fundador da Agência Magnum, representou como poucos o cotidiano, em especial momentos que poderiam passar despercebidos para a maioria das pessoas.

Henri Cartier-Bresson, Praça de l’Europe, Estação Saint Lazare, 1932
Henri Cartier-Bresson, Praça de l’Europe, Estação Saint Lazare, 1932

Outro nome importante é o fotógrafo de guerra Robert Capa (1913-1954). Um de seus principais trabalhos foi o conjunto de onze fotos tiradas em uma praia da Normandia, no chamado Dia D da Segunda Guerra Mundial. Ele fez fotos de diversos outros conflitos, como a Guerra Civil Espanhola e Primeira Guerra da Indochina, onde morreu ao pisar em uma mina terrestre.

Robert Capa, Dia D, Segunda Guerra Mundial
Robert Capa, Dia D, Segunda Guerra Mundial

Dentre inúmeros fotógrafos brasileiros, Sebastião Salgado foi o que alcançou maior expressão internacional. Suas fotografias são de caráter documental e humanista. Os registros são feitos em preto e branco, na maioria das vezes de trabalhadores comuns, camponeses e indígenas do interior de vários países.

Sebastião Salgado, Kuwait, 1991
Sebastião Salgado, Kuwait, 1991

Houve um tempo em que era valorizado apenas o aspecto documental das fotografias, mas, a partir do trabalho desenvolvido por muitos fotógrafos, suas capacidades artística e expressiva passaram a ser apreciadas.

Dorothea Lang, Mãe Migrante, 1936
Dorothea Lang, Mãe Migrante, 1936
Peter Leibing, O Salto da Liberdade, 1961
Peter Leibing, O Salto da Liberdade, 1961
Gerard Malanga, Andy Warhol e a Banda Velvet Underground, 1966
Gerard Malanga, Andy Warhol e a Banda Velvet Underground, 1966

Uma amostra disso é a diversidade de fotógrafos que foram se dedicando à atividade, cada um buscando um estilo próprio na concepção de seus trabalhos. Soma-se a isso a atuação das pessoas em geral que cada vez mais revelam sua paixão por ver e fazer fotografias.

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André Dorigo
André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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