Congonhas do Campo, Aleijadinho

Aleijadinho: o grande mestre do Barroco mineiro

Inegavelmente, Antônio Francisco Lisboa é o artista mais importante do período colonial brasileiro. Popularmente conhecido como Aleijadinho, foi escultor, entalhador, arquiteto e carpinteiro, responsável por inúmeras obras de arte nas cidades históricas de Minas Gerais.

Aleijadinho dedicou toda a sua vida à criação de esculturas, retábulos, altares, fachadas de Igrejas e outras peças de arte sacra. São obras talhadas em madeira e marcadas pela presença do dourado e de detalhes característicos do Barroco, como se pode ver na Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto.

Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto, Aleijadinho
Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto, Aleijadinho

Sua maior realização como escultor foi o conjunto formado por 66 estátuas que compõem a Via Sacra (Paixão de Cristo) e outras doze que representam “Os Profetas”, todas localizadas em Congonhas do Campo, em Minas Gerais.

12 Profetas, Congonhas do Campo, Aleijadinho
12 Profetas, Congonhas do Campo, Aleijadinho
Congonhas do Campo
Congonhas do Campo

Um artista precoce que enfrentou preconceitos

A vida de Aleijadinho é cercada de polêmicas. A primeira delas é justamente sobre sua data de nascimento. Segundo o seu biógrafo, Rodrigo Bretas, ele teria nascido no dia 29 de agosto de 1730. No entanto, para a maioria dos historiadores, ele nasceu em 1738.

Quanto ao local, teria sido na antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, em Minas Gerais, cidade onde viveu sua infância ao lado do pai e da madrasta e, mais tarde, desenvolveu sua carreira.

Era filho de Isabel, uma escravizada de origem africana, e do arquiteto português Manuel Francisco Lisboa, com quem aprendeu as primeiras lições de arquitetura, desenho e escultura – com a importante contribuição do pintor João Gomes Batista.

Aleijadinho não esperou completar seus estudos para começar a desenvolver seus projetos. Em paralelo às aulas de gramática, latim, matemática e religião no internato do Seminário dos Franciscanos Donatos, em Ouro Preto, acompanhava o pai e outros artistas em trabalhos que realizavam na Matriz de Antônio Dias, na Casa dos Contos e em outros locais.

Também é dessa época seu primeiro projeto individual: o desenho de um chafariz para o pátio do Palácio dos Governadores de Ouro Preto, realizado em 1752.

Chafariz, Aleijadinho, 1752
Chafariz, Aleijadinho, 1752

Assim, desde cedo começou a atuar como artesão nas igrejas de Ouro Preto e de cidades vizinhas, como Mariana e São João Del-Rei. Porém, encontrou resistências e não obteve reconhecimento nos primeiros anos de sua carreira. Acredita-se que um fator que motivou muitas pessoas a não abrirem as portas para o jovem artista foi o fato de ele ser filho de pai português e mãe escravizada.

Obras fundamentais do Barroco Mineiro

Em 1758, dois anos após retornar de uma viagem ao Rio de Janeiro, onde observou de perto diversas obras arquitetônicas, esculpiu um chafariz para o Hospício da Terra Santa.

O retábulo da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, é considerado uma das maiores realizações de Aleijadinho. Nele, entre 1770 e 1790 o artista não mediu esforços para realizar uma belíssima decoração com forte presença do dourado e repleta de detalhes, como rocalhas e querubins.

Um dos destaques é um grande conjunto escultórico que representa as três pessoas da Santíssima Trindade, que arremata o retábulo e se integra à ornamentação da abóbada.

Vista como um dos ícones do barroco brasileiro, a Igreja tem formas arredondadas e torres que apresentam recuo em relação à fachada. Essas caraterísticas diferem do chamado estilo Jesuítico, que tinha fachadas retilíneas com elementos decorativos simplificados e escassos.

As Igrejas de Nossa Senhora do Carmo, também em Ouro Preto, e de São Francisco, em São João Del-Rei, também abrigam obras do mestre Aleijadinho.

Como escultor, trabalhava com madeira e pedra-sabão. Suas 64 esculturas em madeira que representam a Paixão de Cristo foram concluídas em 1776. Até hoje podem ser vistas na cidade mineira de Congonhas do Campo.

Passo da Cruz às Costas, Congonhas do Campo, Aleijadinho
Passo da Cruz às Costas, Congonhas do Campo, Aleijadinho
Passo da Crucificação, Congonhas do Campo, Aleijadinho
Passo da Crucificação, Congonhas do Campo, Aleijadinho

Na mesma cidade, estão expostas as esculturas de pedra-sabão que representam os doze profetas, que foram esculpidas entre os anos de 1800 e 1805 – fase em que o artista sexagenário já se encontrava bastante enfermo. Ao observar o conjunto de estátuas, vemos na ala central da escadaria os quatro principais profetas do Antigo Testamento: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel.

Profeta Isaías, Congonhas do Campo, Aleijadinho, foto Ricardo André Frantz
Profeta Isaías, Congonhas do Campo, Aleijadinho, foto Ricardo André Frantz
Profeta Daniel, Congonhas do Campo, Aleijadinho, foto Ricardo André Frantz
Profeta Daniel, Congonhas do Campo, Aleijadinho, foto Ricardo André Frantz

Ainda no campo da escultura, ele produziu grandes relevos para pórticos como o da Igreja de São Francisco, em Ouro Preto. Nele são vistos anjos, brasões, a coroa de espinhos de Cristo e a figura da Virgem Maria.

Portada da Igreja de São Francisco, Ouro Preto, Aleijadinho
Portada da Igreja de São Francisco, Ouro Preto, Aleijadinho

Limitações impostas pela doença não impedem Aleijadinho de realizar sua arte

A partir de 1770, Aleijadinho passa a contar com o apoio de uma equipe de artesãos para realizar seus projetos: fachadas, retábulos e altares, além de pareceres sobre obras arquitetônicas de igrejas.

No entanto, em 1777, ao mesmo tempo em que tinha seu valor artístico reconhecido, foi diagnosticado com uma grave doença que ao longo do tempo deformou os membros de seu corpo, principalmente suas mãos.

Mesmo sofrendo com as dores e as limitações físicas provocadas pela doença que o acompanhou por boa parte da vida e lhe rendeu o apelido Aleijadinho, conseguiu deixar uma obra monumental com ajuda de seus assistentes. Inclusive, o dia de seu falecimento, 18 de novembro, foi escolhido para se comemorar o Dia do Barroco.

Ainda que não se saiba se Aleijadinho foi retratado enquanto vivo, considera-se como o seu retrato oficial uma pintura de Euclásio Penna Ventura. A obra hoje está em exposição no Museu de Congonhas.

Visitar as cidades históricas de Minas Gerais é a melhor forma de apreciar de perto o legado artístico de Antônio Francisco Lisboa.

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André Dorigo
André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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