Paul Gauguin teve uma vida repleta de viagens e de dramas pessoais. Foi um artista pós-impressionista que ao longo de toda a vida buscou se expressar da sua própria maneira. Em suas obras, recriava linhas e cores, anulando a profundidade.
Ele nasceu no dia 7 de junho de 1848, em Paris, mas viveu o início da infância no Peru. Com um ano de vida, sua família migrou para o Peru, viagem que terminou de forma trágica, com a morte de seu pai. Assim, chegou a Lima somente em companhia da mãe (que era peruana) e de uma irmã.
Na adolescência, de volta à Europa, ingressou na marinha mercante e viajou pelo mundo. Porém, alguns anos depois, casou-se, teve cinco filhos e trabalhou em uma corretora até os 35 anos, quando perdeu o emprego após a quebra da Bolsa de Valores de Paris.
Desempregado, passou a se dedicar exclusivamente à pintura, atividade que até então exercia somente nos horários livres – época em que teve uma passagem pelo grupo dos impressionistas, introduzido por Camille Pissarro.
Um ano depois, vendo que não conseguia dinheiro suficiente para pagar as contas, se mudou com a mulher e os filhos para Copenhague, na Dinamarca. No entanto, o desgaste financeiro e vários conflitos colocaram fim ao casamento.
Após viver um tempo em Paris, época em que chegou a praticamente passar fome, mudou-se para a América Central em busca de novas inspirações. Para sobrevir, chegou a trabalhar como operário na construção do Canal do Panamá.
Nessa época, entrou em contato com novas culturas e passou a pintar quadros de arte primitiva. Daí em diante, sua vida se tornou cada vez mais intensa, marcada por muitas viagens à Europa e longos períodos vivendo em ilhas americanas.
Taiti revoluciona a arte de Gauguin
Para Gauguin, as viagens eram muito importantes, pois ele buscava representar a natureza intocada e a vida simples do campo, rompendo com o que considerava “a doença da civilização”.
Em busca de inspiração artística, Gauguin tomou uma atitude radical: ele abandonou tudo na Europa e foi para a ilha do Taiti, na Polinésia francesa. Ele passou duas temporadas por lá: entre 1891 e 1893 e entre 1895 e 1901.
Na pintura “Mulheres do Taiti” (1891), as cores da tela são fortes e contrastantes. Essa tornou-se uma característica marcante das obras do artista, a partir da experiência estética vivenciada no Taiti. Lá, ele se casou com uma nativa e produziu obras inspirado pelas paisagens locais.
Gauguin usava palavras do idioma nativo do Taiti para dar nome às suas pinturas, como no caso da obra “Arearea” (1892), que significa entretenimento ou passatempo no idioma taitiano. No entanto, a tela é conhecida popularmente como “o cachorro vermelho”.
“De Onde Viemos? Quem Somos Nós? Para Onde Estamos Indo?” (1897) e “Cavaleiros na Praia” (1902) são outros quadros que revelam o quanto a convivência com os nativos da Martinica, das ilhas Marquesas e do Taiti influenciaram de forma definitiva a obra do pintor.
Uma complexa amizade
Um fato curioso da vida de Gauguin foi sua amizade com Van Gogh, com quem chegou a dividir um estúdio e homenageou com a pintura “Vincent van Gogh pinta girassóis” (1888). A cena foi representada de cima para baixo, o que faz a imagem parecer achatada.
Gauguin esteve com Van Gogh em Arles por dois meses, entre outubro e dezembro de 1888. No entanto, a convivência conflituosa dos dois terminou de forma dramática, com Van Gogh cortando sua própria orelha após uma discussão.
Apesar de discordarem e brigarem muito, havia um laço de amizade entre os dois pintores. Inclusive, Gauguin se sentia angustiado por ter partido e nunca mais ter visto Van Gogh.
Polêmicas à parte, Gauguin foi artista de vanguarda
Em 1893, após receber herança de um tio, Gauguin organiza uma exposição com suas obras pintadas no Taiti. A exposição não foi bem recebida pela crítica que considerou as “cores exageradas” e “irreais”.
Desiludido, em 1895, ele voltou para o Taiti, mas seus problemas financeiros não melhoraram. Além disso, teve um sério desentendimento com as autoridades locais e catequizadores católicos. Gauguin criticava a administração colonial e a catequização dos nativos.
Com uma vida constantemente atormentada, chegou a tentar o suicídio. Ele só foi reconhecido depois de sua morte, ocorrida nas Ilhas Marquesas, em 1903. Sua obra inspirou vários artistas de vanguarda, como os fauvistas e os expressionistas.
A importância do Taiti para Gauguin pode ser traduzida nessa frase: “Escolhi o Taiti e espero cultivar minha arte lá em estado selvagem e primitivo”.