O Olhar Humano de Sebastião Salgado

O brasileiro Sebastião Salgado é um dos maiores nomes da fotografia contemporânea mundial, além de ser reconhecido internacionalmente pelo seu engajamento em causas ecológicas e humanitárias, assuntos que tangenciam a sua fotografia.

Ao longo das últimas décadas, suas lentes captaram, sempre em preto e branco, usando de altos contrastes, as múltiplas formas de violação da dignidade humana, como as guerras, a pobreza e a exploração do trabalho.

Ultimamente, porém, elas vêm repousando no extremo oposto: lugares intocados pelas mãos predatórias do homem, povos originários e animais raros em seu habitat natural, como podemos ver em “Gênesis”, e em “Amazônia”, seus trabalhos mais recentes.

Sebastião Salgado
Amazônia

Por que Sebastião Salgado começou a fotografar?

Salgado nasceu em Aimorés, Minas Gerais. Graduou-se e especializou-se em Economia, tendo feito seu doutorado em Paris, onde posteriormente fixaria residência com a sua mulher, Lélia.

No início dos anos 1970, era secretário da Organização Internacional do Café. Durante uma viagem à África, em que era coordenador de um projeto relacionado à cultura do café em Angola, ficou de tal modo envolvido e motivado pelo ato de fotografar (naquela época, com uma câmera Leica emprestada pela esposa) que decidiu se assumir fotógrafo.

Em seguida, Sebastião Salgado embarcou na documentação de eventos sociais e políticos na Europa e na África. Realizou diversas viagens pela América Latina, de 1977 a 1984, capturando as condições de vida dos camponeses e indígenas, que foram compiladas no livro “Outras Américas”, lançado em 1986.

Sebastião Salgado
Outras Américas

O que retrata a fotografia de Sebastião Salgado?

Interessado pelos caminhos e descaminhos da humanidade, cuja força e capacidade de adaptação se sobressaem mesmo diante de situações extremas, Salgado passou décadas perseguindo temas em que era clara a ação do homem sobre o meio, do meio sobre o homem e do homem sobre o homem.

Durante um período de 15 meses, Sebastião Salgado colaborou com a organização francesa “Médicos Sem Fronteiras”, explorando a região do Sahel, na África, e documentando os impactos devastadores da seca na década de 1980.

Sebastião Salgado
Sahel

No período de 1986 a 1992, Sebastião Salgado criou a série fotográfica intitulada “Trabalhadores”, na qual ele registrou o trabalho manual e as difíceis condições de vida enfrentadas por trabalhadores em diversas regiões do globo.

Sebastião Salgado
Trabalhadores

No período de 1993 a 1999, Sebastião Salgado direcionou seu foco para o fenômeno mundial do deslocamento em massa de pessoas, resultando nas obras “Êxodos” e “Retratos de Crianças do Êxodo”, publicadas em 2000 e amplamente aclamadas internacionalmente.

Sebastião Salgado
Êxodos

Qual é a principal obra de Sebastião Salgado?

Após tanto tempo registrando os efeitos nefastos de como as sociedades exploram a natureza e a si mesmas, Salgado mudou o foco da sua busca para o extremo oposto: lugares intocados pela dita civilização e povos que seguem vivendo da mesma forma, no mesmo habitat, desde séculos atrás.

O resultado dessa nova abordagem é o projeto Gênesis, talvez o mais importante de sua carreira, iniciado em 2004, concluído em 2012 e publicado no ano seguinte.

Salgado explorou diversos cantos do globo terrestre, registrando imagens singulares que poucos fotógrafos do mundo já conseguiram capturar. Nelas, a fauna e a flora de lugares remotos e muito pouco frequentados pelo ser humano. Lugares livres da ganância e da exploração.

Sebastião Salgado
Gênesis

Em busca de um modo de vida ancestral

Seu projeto seguinte, Amazônia, seguiu pela mesma linha, buscando (re)descobrir um modo de vida primordial, em que o contato com a natureza vem de uma noção de coexistência ou mesmo de fusão.

Ao longo de um período de seis anos, Sebastião Salgado embarcou em uma jornada pela Amazônia brasileira, registrando a incomparável beleza dessa região extraordinária: a exuberante floresta tropical, os sinuosos rios, as majestosas montanhas e as comunidades que ali habitam, com seus modos, leis e cosmologias únicos.

Essa obra retrata uma riqueza incomensurável para a humanidade e para o planeta, onde o gigantesco poder da natureza se faz perceber de forma singular, como em nenhum outro lugar da Terra.

Além de livros, esses projetos se transformaram em exposições, cujas enormes ampliações fotográficas rodaram o mundo, permitindo que a experiência de conexão com esse mundo encantado e desconhecido possa ser compartilhada.

Sebastião Salgado
Amazônia

Sebastião Salgado e sua arte controversa

Mas nem só de louros e reconhecimento vive Salgado. Ao longo de sua carreira, o fotógrafo se deparou com muita falta de compreensão e críticas à sua linha de trabalho, principalmente ao longo do tempo em que suas imagens retratavam aqueles que vivem à margem da sociedade.

Nessa época, ouvia-se que ele estaria embelezando a miséria humana em suas imagens. No entanto, o que a sua obra faz é mostrar um grande respeito pelas pessoas fotografadas, além de ser uma forma contundente de denúncia.

Não é à toa que ele se tornou um ativista respeitado pelo seu engajamento em causas humanitárias e de sustentabilidade.

O Sal da Terra

O documentário “O Sal da Terra”, de 2014, dirigido por Wim Wenders e por Juliano Salgado, filho do fotógrafo, narra a jornada de Sebastião Salgado na criação de sua fotografia social.

Viajamos com ele pelo mundo, desde a fazenda onde passou a sua infância até Paris, explorando suas principais obras e testemunhando suas escolhas e descobertas ao longo da vida.

O filme alterna cenas em cor e em preto e branco, e traz as narrativas tanto do fotógrafo, que repassa algumas de suas fotos mais marcantes, quanto dos dois diretores.

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André Dorigo

Doutor em História da Arte pela UFRJ. Desde 2017 tem cursos on-line sobre o tema e produz conteúdo para a internet, tendo milhares de alunos. Organiza viagens culturais em diversas cidades.

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