Tarsila do Amaral teve papel fundamental no movimento modernista. A artista criou telas que retratam aspectos emblemáticos da cultura e da realidade social do Brasil.
Suas obras são marcadas pela escolha das cores, inspiradas em Minas Gerais, e pela representação de temas brasileiros, como paisagens rurais e urbanas, fauna e flora, folclore e o próprio povo, como se vê na tela “A Negra” (1923).
Desde muito jovem, passou várias temporadas estudando na Europa, onde pintou seu primeiro quadro “Sagrado Coração de Jesus” (1904). Em 1922, se juntou aos modernistas brasileiros, com os quais formou o grupo dos cinco ao lado de Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia.
Uma artista moderna
Tarsila nasceu no dia 1 de setembro de 1886, em Capivari, município do interior de São Paulo. Viveu a infância nas fazendas do pai, estudou em São Paulo e em Barcelona, na Espanha.
Dulce, sua única filha, é fruto de seu primeiro casamento, que ocorreu pouco depois de seu retorno ao Brasil. Foi após a separação que ela retomou seus estudos artísticos, passando pela escultura, desenho e pintura.
Após uma temporada em Paris, em 1922 Tarsila volta ao país ao ser informada pela amiga e pintora Anita Malfatti sobre a realização da Semana de Arte Moderna. Foi um momento definitivo para a artista: entrou em contato com a arte moderna e conheceu os artistas com os quais formaria o grupo dos cinco.
No ano seguinte, de volta a Paris, acompanhada pelo namorado e futuro marido Oswald de Andrade, estudou com o cubista Fernand Léger e pintou a tela “‘A Negra”. O quadro impressionou o mestre e abriu as portas para Tarsila na arte moderna brasileira.
A personagem dessa pintura tem relação direta com a infância da artista, marcada pela presença de mulheres negras descendentes de pessoas escravizadas, que muitas vezes atuavam como amas de leite e cuidadoras de crianças.
No Movimento Pau Brasil, Tarsila traz as cores mineiras para suas telas
Após se juntar ao Movimento Pau Brasil (1924-1927), passou a usar técnicas do cubismo em quadros como “Carnaval em Madureira” (1924) e “Morro da Favela” (1924).
Também passou a usar as cores da natureza e a retratar a cultura popular, as paisagens rurais e personagens comuns que viviam nesses ambientes. É o que podemos ver nas pinturas “O vendedor de frutas” (1925) e “Paisagem com touro” (1925).
Segundo a artista, as cores que via em Minas Gerais estavam presentes em sua vida desde a infância, mas eram classificadas pejorativamente como “caipiras” pelos seus mestres. Porém, tais críticas não impediram que essas cores passassem a caracterizar de forma definitiva sua arte.
O Abaporu e a antropofagia
Uma das obras mais importantes de Tarsila foi pintada para ser apenas um presente para Oswald de Andrade. Trata-se do “Abaporu” (1928), que significa homem que come carne humana (o antropófago).
Com base nessa tela, Oswald escreveu o Manifesto Antropófago e criou o Movimento Antropofágico, tendo a figura do Abaporu como símbolo. O movimento queria “engolir” a cultura europeia, dominante na época, e transformá-la em algo bem brasileiro.
Segundo Tarsila, o Abaporu é fruto de imagens inconscientes relacionadas a histórias que ouvia quando criança. Alguns quadros dessa fase são: “O Ovo” (1928), “A lua” (1928), “Floresta” (1929), “Antropofagia” (1929) e “Sol Poente” (1929).
Arte engajada
Em 1929, Tarsila fez sua primeira exposição individual no Brasil, a qual não foi bem compreendida pela crítica. Já a exposição realizada em Moscou, em 1931, representou uma outra mudança na trajetória da artista: sensibilizada pela causa operária, retornou ao Brasil e passou a frequentar reuniões do Partido Comunista Brasileiro, chegando a ficar presa por um mês.
É dessa época a tela “Operários” (1933), que tornou a artista uma pioneira da temática social no país, caraterística também presente nas pinturas “Segunda Classe” (1933), “Costureiras” (1936-1950) e “Orfanato” (1935-1949).
Participou da I Bienal de São Paulo (1951) e da Bienal de Veneza (1964). Também foi colunista dos Diários Associados, de 1936 até meados dos anos 1950, quando retomou a temática do Pau Brasil ao produzir a tela “Fazenda” (1950).
Um episódio trágico que marcou sua vida foi a morte de sua única neta, que morreu afogada ao tentar salvar uma amiga.
Tarsila foi retratada no filme “Eternamente Pagu” (1987) e nas minisséries “Um só coração” (2004) e “JK” (2006), além de contar com um site dedicado à sua vida e obra: http://tarsiladoamaral.com.br.