Van Gogh é considerado o maior expoente do Pós-impressionismo. Em apenas uma década de carreira, produziu mais de mil pinturas, que hoje nos encantam por suas cores intensas e grande expressividade.
Incompreendido em sua época, visto por muitos como louco, somente foi aclamado na posteridade. Em vida vendeu apenas um quadro, “A Videira Vermelha” (1888), no início de 1890, ano de sua morte.
Em 1973, em Amsterdã, foi inaugurado um museu para abrigar suas criações, uma forma de seu país natal reconhecer o valor e preservar o legado de um de seus artistas mais ilustres.
Um difícil começo
Van Gogh nasceu no dia 30 de março de 1853, na vila Brabante de Zundert, pequena aldeia ao sul da Holanda. Sua família era muito religiosa e tinha boas condições financeiras. Dentre seus cinco irmãos, Theo era o seu preferido e, apesar de mais jovem, foi seu melhor amigo e quem contribuiu de forma efetiva para que Van Gogh se dedicasse à pintura.
Na infância, estimulado pela mãe, gostava de pintar aquarelas. Apesar desse impulso inicial, a decisão de se tornar pintor não foi imediata. Ainda na adolescência, começou a trabalhar com o tio em uma galeria de arte em Paris.
Um tempo depois, se tornou professor na Inglaterra e pregador evangélico – função da qual foi dispensado por causa de seu “temperamento instável”, marca que o acompanhou ao longo de toda a vida. Além disso, sua carreira religiosa também foi precocemente encerrada por não ter conseguido ser aprovado para o curso de Teologia.
Ao longo da vida, Van Gogh tornou-se depressivo e sofreu diversas crises nervosas, optando por passar longos períodos na solidão. Nesses momentos, o apoio de seu irmão Theo foi de fundamental importância. Foi com sua ajuda financeira, por exemplo, que, em 1880, estudou anatomia e perspectiva em Bruxelas (Bélgica), quando passou a se dedicar diariamente ao desenho.
Em 1885, após a morte repentina de seu pai, Van Gogh pintou “Os Comedores de Batata”, obra em que se destacam as tonalidades escuras. Retratando camponeses durante uma refeição noturna, sua primeira tela de destaque tinha uma atmosfera sombria e lúgubre, mas já demonstrava seu interesse pela luz, sombra, contrastes e pinceladas carregadas de tinta.
Paris acende as luzes na arte de Van Gogh
Em 1886, a mudança de Van Gogh para Paris produz uma revolução definitiva em sua arte. Seu contato com os impressionistas, e também com as gravuras japonesas, foram fundamentais para que ele abandonasse os tons escuros e pesados e se abrisse para a luminosidade e a leveza.
A pintura ao ar livre tornou-se um hábito para o resto da sua vida. Além disso, a técnica baseada em pinceladas firmes e carregadas foi essencial para que ele pudesse produzir com agilidade um vasto número de obras em sua curta carreira, sobretudo nos últimos dois anos.
Um ponto marcante dessa fase de sua vida foi o encontro com o pintor Paul Gauguin, do qual se tornou amigo. Uma prova dessa amizade é o quadro “O Pintor de Girassóis” (1888), presente de Gauguin para o amigo holandês.
Por que Van Gogh cortou a orelha?
Gauguin e Van Gogh se conheceram em 1886, mas foi no ano seguinte que estabeleceram uma relação mais próxima. Theo Van Gogh, irmão de Vincent, que trabalhava como marchand, desempenhou um papel importante na vida de Gauguin, adquirindo suas obras de arte.
Apesar da afetividade entre os dois pintores, suas personalidades fortes e divergentes levaram ao fim da amizade. Eles conviveram intensamente na mesma casa por apenas dois meses, em Arles, onde Van Gogh havia se instalado e pretendia formar uma comunidade de artistas.
O episódio da última briga entre eles é um dos mais conhecidos da biografia de Van Gogh: em meio a muitas discussões, Gauguin partiu definitivamente de Arles e, num acesso de raiva, ou talvez num surto psicótico, impulsionado pela tristeza e pela frustração, ele mutilou a sua própria orelha com uma navalha.
Qual era o significado do girassol para Van Gogh?
Ainda pensando na relação de amizade entre os dois artistas, por que Gauguin presenteou Van Gogh com uma tela em que ele aparecia pintando girassóis? A explicação é que quando esteve em Arles, Van Gogh pintou uma série de telas de vasos com girassóis, com as quais justamente pretendia decorar o quarto em que Gauguin ficou hospedado.
Van Gogh adorava a alegria vibrante da cor amarela e se identificava com os girassóis que, para ele, eram símbolo de felicidade e de gratidão, de força e de resistência. Ele os achava rústicos e refinados ao mesmo tempo.
Na época em que Van Gogh morou em Paris, vários pintores acadêmicos produziam naturezas-mortas usando flores diversas. Mas a aparência dos girassóis era considerada grosseira para eles.
Inspirado pelos impressionistas, Van Gogh produziu as suas primeiras naturezas-mortas com girassóis. O trabalho era desafiador, pois as flores só se mantinham frescas e belas por um curto período de tempo e murchavam depois de poucas horas.
Van Gogh acreditava na expressão verdadeira que o trabalho urgente e espontâneo conferia.
Uma característica marcante dessa série de girassóis é o fundo em cores puras. Em algumas das pinturas, o artista criou uma composição de vaso amarelo sobre fundo amarelo, que quebrava uma regra tida como sagrada na época: não usar a mesma cor no objeto em primeiro plano e no fundo.
A longevidade da arte de Van Gogh
Durante sua estada em Arles, Van Gogh pintou vários outros quadros que marcaram sua carreira, como “Vista de Arles com Lírios” (1888) e “Quarto em Arles” (1888).
As cores e a expressividade são características marcantes na sua obra. No quadro “Autorretrato com chapéu de palha” (1887), é interessante observar como ele mistura as cores quentes e frias. Se prestarmos atenção, em cada parte da pintura, as pinceladas têm um sentido diferente.
A famosa obra “Noite estrelada” (1889) foi feita em Saint Rémy de Provence, quando estava internado no monastério e hospital de St. Paul de Mausole (eu conheci o seu quarto e muitos locais onde ele pintou na região). Nessa tela, Van Gogh representa o brilho cintilante das estrelas e da lua, promovendo uma grande movimentação visual.
A subjetividade da pintura de Van Gogh influenciou boa parte dos artistas modernistas. Infelizmente, o artista morreu em consequência de um tiro, aos 37 anos, numa situação até hoje não esclarecida. A grandeza de sua obra continua encantando milhões de pessoas.
Assista ao vídeo em que falo sobre os girassóis de Van Gogh.